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Análise econômica e de mercado

De cash a renda fixa: Uma mudança estratégica para investimentos pós-pandemia

Diante do recuo dos rendimentos dos instrumentos de cash, o argumento a favor da renda fixa se torna mais convincente.

Com a dissipação dos abalos que a pandemia causou nos mercados e economias, as tendências de longo prazo estão se reafirmando. Um sinal notável de que os mercados estão retornando aos padrões históricos surgiu em novembro, quando uma métrica de rendimento do Bloomberg US Aggregate Index ultrapassou a taxa básica de juros do Federal Reserve pela primeira vez em mais de um ano.

É difícil exagerar a raridade de um quadro em que o rendimento de referência da renda fixa fica abaixo — por vezes bem abaixo — da Federal Funds Rate por um período tão longo. Antes da pandemia, isso só havia acontecido quatro vezes neste século, e nunca por mais do que algumas semanas seguidas (Figura 1).

Figura 1: O rendimento do índice de renda fixa de referência mais uma vez excede a taxa básica do Fed

Fontes: Federal Reserve dos EUA e Bloomberg, em 29 de novembro de 2024. Os dados exibidos são o menor rendimento possível do Bloomberg US Aggregate Index (LBUSYW) e a Fed Funds Rate efetiva (EFFR).

Essa demorada reversão na tendência habitual do mercado refletiu não apenas a política monetária restritiva pelo Fed, como também a reação dos investidores à disparada da inflação e a outras consequências da pandemia. Muitos investidores recuaram em direção a instrumentos de cash — que ofereciam os melhores rendimentos em décadas, além da percepção de segurança — e ali permaneceram.

Novas circunstâncias

Dois anos depois, o panorama do mercado é outro. Agora que o Fed embarcou em uma trajetória de redução dos juros, a alocação excessiva em cash cria risco de reinvestimento, à medida que os ativos se transformam rápida e repetidamente em versões de si mesmos com menor rendimento.

Paralelamente, os rendimentos dos títulos tiveram alta substancial em relação aos níveis mínimos da época da pandemia. Na comparação com cash, que tem queda nos rendimentos ao passo que os juros diminuem, os títulos oferecem uma oportunidade mais atraente. A Figura 2 ilustra isso ao comparar o rendimento de um importante índice de renda fixa com o rendimento das notas do Tesouro dos EUA com vencimento em 3 meses, que funciona como referência para aplicações em cash. Tanto a renda fixa quanto cash ofereceram rendimentos atraentes nos últimos dois anos, mas por definição não é possível travar esses níveis de rendimento de cash por períodos mais longos. Desde setembro, quando o Fed baixou a taxa básica de juros em 50 pontos-base (p.b.), a perspectiva dos rendimentos de cash em relação à renda fixa tradicional diminuiu drasticamente.

Figura 2: Rendimento da renda fixa tradicional dos EUA supera o dos ativos financeiros de curto prazo

Fonte: Dados da Bloomberg em 6 de dezembro de 2024. Os rendimentos da renda fixa são representados pelo menor rendimento possível do Bloomberg US Aggregate Index (LBUSYW). Os rendimentos de cash são representados pelo rendimento da nota do Tesouro dos EUA de 3 meses.

Não há certeza sobre a trajetória do Fed e as projeções de juros das autoridades podem subir após a reunião de dezembro. No entanto, os dados e a comunicação até o momento sugerem que o cenário mais provável é de redução gradual dos juros. O Fed tenta garantir um pouso suave da economia dos EUA — com mercado de trabalho saudável e inflação próxima da meta — e tem flexibilidade para buscar suas metas apesar dos obstáculos esperados ou inesperados (por exemplo, política comercial, questões geopolíticas, surpresas nos preços). Esse ambiente de juros é altamente favorável para a renda fixa.

Renda fixa para o longo prazo

Considerando as atuais condições de mercado e valuations relativas, vemos valor atraente em títulos com alta qualidade e liquidez nos mercados públicos. Os rendimentos iniciais estão interessantes quando comparados a outros ativos do espectro de risco e liquidez — incluindo cash. Historicamente, os rendimentos iniciais são indicador robusto do desempenho da renda fixa de longo prazo.

Além disso, os títulos de renda fixa estão bem posicionados para enfrentar uma variedade de situações diferentes do cenário-base. Historicamente, títulos de alta qualidade têm bom desempenho durante pousos suaves e desempenho ainda melhor em quadros de recessão — se este for o caso. Conforme a Figura 3, os títulos também mostraram bom desempenho em uma variedade de cenários de redução de juros (afinal, todo ciclo monetário tem suas particularidades). Tanto em casos de abordagem muito gradual pelo Fed (“juros mais altos por mais tempo”), de início do ciclo com uma queda drástica ou de abordagem intermediária entre esses extremos, a renda fixa depois rendeu mais do que aplicações em cash em cada um desses ambientes de juros.

Figura 3: A renda fixa superou instrumentos de cash após o Fed iniciar os cortes de juros, independentemente da trajetória

Fontes: Dados da Bloomberg e cálculos da PIMCO em 30 de setembro de 2024. Somente para fins ilustrativos. A figura não é indicativa do desempenho passado ou futuro de qualquer produto ou estratégia da PIMCO. Não há garantia de que os resultados apresentados serão atingidos.

1 Os ciclos de aperto são períodos em que o Federal Reserve embarca em uma trajetória sustentada de elevação da meta e/ou da meta para variação da taxa básica Federal Funds Rate. Definimos o encerramento de um ciclo de aperto como o mês em que a taxa básica do Fed atinge o ponto máximo daquele ciclo (ou seja, pausa os aumentos ou corta os juros). Os ciclos de aperto (do início ao pico) incluem: 1984 (fevereiro de 1983 a agosto de 1984), 1995 (janeiro de 1994 a fevereiro de 1995), 2006 (maio de 2004 a junho de 2006). Selecionamos três estudos de caso para ilustrar três desfechos muito diferentes para a trajetória da taxa básica após o alcance do nível máximo em cada ciclo. O ciclo de 1984 se baseia na taxa de variação, considerando que os rendimentos iniciais estavam significativamente maiores do que se vê atualmente.

2 Para simular o desempenho nos próximos três anos, presumimos que os juros de longo prazo seguirão seu padrão histórico em cada ciclo durante os próximos três anos. A renda fixa tradicional é representada pelo Bloomberg U.S. Aggregate Index. Os retornos das notas do Tesouro de 3 meses são estimados usando as variações mensais históricas na Federal Funds Rate a partir do nível atual. Na análise aqui apresentada, a PIMCO descreveu cenários de eventos hipotéticos que, teoricamente, poderiam impactar as curvas de juros, conforme ilustrado nesta análise. Não é feita qualquer afirmação de que seja provável que esses cenários se concretizem ou que qualquer carteira provavelmente irá gerar lucros, perdas ou resultados semelhantes aos apresentados. O cenário não representa todos os desfechos possíveis e a análise não leva em consideração todos os aspectos do risco. Os retornos totais são estimados com reprecificação da duration da taxa básica, replicando carteiras de títulos de cupom equivalente. Todos os cenários mantêm o spread ajustado por opções (OAS) constante.

Diversificação e hedge dos riscos

Na prática, o mercado de renda fixa está pagando investidores para diversificar e fazer hedge dos riscos. Os mercados de ações têm uma história mais conturbada em ciclos de redução de juros, com maior volatilidade ao longo do tempo. E vale lembrar que o mundo vive um período de maior agitação geopolítica e troca de lideranças nas grandes economias.

Títulos e ações têm correlação negativa atualmente, após se moveram na mesma direção durante o choque inflacionário trazido pela pandemia. A correlação negativa entre ações e títulos amplifica o potencial da renda fixa como âncora de estabilização das carteiras.

As tendências históricas também dão sustentação aos títulos como atraente hedge de risco. Analisamos os mercados de títulos e ações desde 1973, durante períodos em que os títulos tradicionais dos EUA renderam 5% ou mais e a razão preço/lucro das ações esteve acima de 30, como é o caso atualmente. Nessas situações, os títulos ofereceram maiores retornos subsequentes em cinco anos (Figura 4) e com volatilidade potencialmente menor.

Figura 4: Historicamente, os títulos de renda fixa com os rendimentos atuais superaram as ações nas valuations atuais

Fontes: Dados da Bloomberg e cálculos da PIMCO em 30 de setembro de 2024. Exclusivamente para fins ilustrativos.O gráfico usa dados a partir de janeiro de 1973. A renda fixa tradicional é representada pelo Bloomberg U.S. Aggregate Index. A razão preço/lucro ajustada ciclicamente (CAPE, na sigla em inglês) se refere ao S&P 500. Não é possível assegurar que as tendências mencionadas acima terão continuidade. As afirmações relativas às tendências do mercado financeiro se baseiam nas condições atuais de mercado, que podem se alterar.

Uma alocação em renda fixa oferece rendimentos interessantes, potencial de valorização de preços e uma forma líquida de proteção contra o risco de que as ações ou outros ativos mais voláteis enfrentem um recuo consistente.

Conclusões

Os sinais do mercado e a movimentação do Fed refletem uma virada para os rendimentos da renda fixa. A combinação de rendimentos iniciais elevados com a expectativa de queda dos juros cria uma perspectiva atraente para uma ampla variedade de títulos. Os investidores que ainda estão com dinheiro em cash devem considerar uma migração para a renda fixa.

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